quarta-feira, 9 de julho de 2008

Saindo do Brasil

Nessa segunda parte do texto de Rubens, é o momento em que o garoto sai do país em busca de um sonho.


Em 1990 vivi um ano muito difícil de minha vida, tendo que deixar para trás minha família, meus amigos e tudo que havia conquistado aqui no Brasil em busca do meu maior sonho: ser um piloto de Fórmula 1. Fui sozinho, e sozinho mesmo, pois não tinha recursos para levar ninguém para Europa. Me lembro muito bem das loucuras que fazíamos e de como tínhamos que lutar para conseguir o que precisávamos para as viagens. Fui participar do Campeonato Europeu de Fórmula Opel na Equipe Draco. Tinha 17 anos e amadureci muito, pois foi muito difícil enfrentar tantas barreiras.

Vejo hoje os grandes craques serem vendidos e quando chegam ao exterior existe uma enorme estrutura para ajudá-los. Já no caso da maioria dos pilotos, íamos com a cara e a coragem.No início, precisei de muita determinação, pois dormia em um quarto com um cachorro dentro da garagem da equipe. Além disso, tive que competir com a carteira do meu pai, pois eu não tinha licença para dirigir. Isso só foi possível porque eu e meu pai temos o mesmo nome e nascemos no mesmo dia, 23 de maio. Mas valeu, e muito!!! Pois, além de ter aprendido o italiano, fui campeão logo na primeira temporada e, com isso, a Europa quis descobrir quem era aquele moleque que logo no primeiro ano já tinha se tornado campeão.

Em 1991, uma nova categoria e um novo desafio: aprender inglês. Fui correr de Fórmula 3 Inglesa na equipe West Surrey Racing. Foi um ano mais difícil ainda, já que mudei da Itália para a Inglaterra. Mal havia aprendido o italiano tive que mudar tudo, sem contar o frio, que era insuportável. Mas devo confessar que o mais difícil mesmo de tudo isso era ficar longe de casa. Certos dias era bastante duro lidar com a saudade. Sempre fui muito próximo da minha família e ter que ficar meses sem eles por perto foi muito duro. E naquela época não havia MSN, Skype, e nem mesmo celular. Mas também valeu muito a pena porque, mais uma vez, pude aprender uma língua sendo campeão da categoria. Fui o piloto mais jovem a me tornar campeão da Fórmula Inglesa e só fui batido pelo Nelsinho em 2004, um grande adversário. Ele foi campeão na segunda temporada e eu na primeira.

Com dois títulos seguidos recebi um convite para disputar o Campeonato Europeu de Fórmula 3000 de 1992 pela equipe IL Barone Rampante.

Foi então que as coisas começaram a melhorar um pouquinho. Afinal, eu já falava Italiano. Morava em uma casa muito boa e com o tempo outros amigos começaram a chegar do Brasil tentando a mesma sorte, o que ajudou na minha adaptação na Inglaterra. Muitos passaram por lá, como o Pedro Paulo Diniz, Gualter Sales, Ricardo Rosset e o Roberto Xavier. O ano foi duro. O carro não era muito competitivo e tivemos até que trocar o fornecedor de motor no meio da temporada. Mas mesmo assim consegui chegar em terceiro no campeonato e minha carreira caminhava a passos largos para muito antes do que eu imaginava poder sentar e acelerar um Fórmula 1.

Em janeiro de 1993 finalmente chegou o grande dia. Fui fazer um teste pela Jordan no circuito Silverstone. Toda negociação foi muito rápida e mesmo tendo algumas outras ofertas decidimos fechar com a Jordan. Era o sonho tornando-se realidade. Naquele mesmo ano eu seria um piloto de Fórmula 1 e defini alguns objetivos para minha carreira. Primeiro: marcar pontos. Segundo: conquistar um podium. Terceiro: vencer. E quarto: conquistar o titulo de Campeão Mundial de Fórmula 1.

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